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A busca de alternativas de energia limpa para substituir os combustíveis fósseis se dá em várias frentes. Uma delas ocorre no Rio de Janeiro, mais precisamente nos laboratórios do Inmetro em Duque de Caxias, onde estão sendo realizados testes para o desenvolvimento de novas tecnologias para motores do Grupo Fiat. O primeiro resultado dessa parceria, que deve estar concluído no início de 2012, dará origem a um motor para máquinas agrícolas movido a óleo vegetal puro, produzido em propriedades rurais.

Além de atender aos objetivos ambientais, o motor trará economia de custo para os agricultores. O litro de óleo vegetal de fabricação própria pode custar cerca de R$ 0,70, enquanto o diesel normalmente usado em tratores não sai por menos de R$ 2. Outro atrativo é suprir a demanda que hoje existe em comunidades rurais distantes dos grandes centros que hoje não encontram os combustíveis tradicionais com facilidade.

Objetivo social
A proposta do Inmetro traz uma vantagem adicional: se for acoplado um gerador ao equipamento, será possível produzir energia elétrica. “Nosso objetivo é social”, afirma o engenheiro químico Romeu Daroda, coordenador de projetos de biocombustíveis do instituto.

“Nosso objetivo é modificar o motor de combustão para ser adaptado a um novo tipo de combustível”, afirma João Irineu Medeiros, diretor de Engenharia do Produto da FPT Powertrain Technologies, empresa do Grupo Fiat fabricante de motores e transmissões. “Mudamos o sistema de injeção, a calibração, o design da câmara de combustão, acrescentamos sistemas que possibilitam o uso de vários tipos de óleo vegetal.”

Em contrapartida, o Inmetro desenvolve o equipamento necessário para viabilizar o combustível de uma maneira simples, ou seja, por extração mecânica, prensagem, aquecimento e filtragem. “Não será preciso construir uma refinaria para obter o óleo”, brinca. “No processo comercial de grande escala, é preciso adicionar componentes antioxidantes para manter o produto estável por bastante tempo. No nosso caso, apenas retiramos da matéria-prima o material que pode prejudicar omotor.”

Numa segunda fase, o Inmetro pesquisa o maior número de fontes oleaginosas nativas como matérias-primas disponíveis. “Já experimentamos andiroba, carnaúba, babaçu, dendê, pinhão-manso, soja. A maioria está se mostrando viável como substituta do óleo diesel.” Outro detalhe importante é o rendimento, acrescenta o coordenador do projeto. “Nossa intenção é viabilizar a cadeia toda para o agricultor. Temos que trabalhar para que as sementes do farelo tenham o menor percentual possível de óleo e possam ser aproveitadas como ração animal ou fertilizante.”

O Inmetro e a Fiat pretendem transferir o conhecimento adquirido na obtenção da matéria-prima para os interessados. Segundo Daroda, trata-se de tecnologia nacional, destinado a atender uma necessidade brasileira. “Isso não significa que não possa interessar a outros países”, afirma.

Projetos têm investimento de R$ 4 milhões
O acordo entre o Inmetro e o Grupo Fiat visa desenvolver novas tecnologias para o setor automotivo com um investimento inicial da ordem de R$ 4 milhões, considerando recursos públicos e privados. Além do trator abastecido de óleo vegetal, outros projetos estão em andamento. Um dos mais adiantados visa obter motores para veículos comerciais leves que possam usar combustível com 30% de biodiesel e 70% de diesel em sua composição. O veículo conceito poderá ser apresentado até 2013. Outros projetos visam à obtenção de materiais para a redução de atrito em motores por meio do uso de nanotecnologia, caracterização físico-química de catalisadores; redução em até 30% no consumo de óleo em fluidos e lubrificantes.

Martha San Juan França

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